domingo, 16 de julho de 2017

Que bom te ver!

Como é doido o que o tempo faz, o tempo faz passar muitas dores, superarmos perdas, nos refazermos... Mas é estranho quando brigamos com alguém e deixamos o tempo passar, sem um pedido de desculpas, sem uma reaproximação, de propósito ou não o tempo cria obstáculos para o retorno, dificulta a fala pois a intimidade já secou, ressecou os lábios para um sorriso, para esse ato tão simples e sutil. Com os anos, já não conseguimos sustentar o olhar, já não há a raiva, o arrependimento, a mágoa... tudo isso já passou, já não deseja o distanciamento, e vocês que um dia já disseram tantas coisas com os olhos sorrindo um pro outro, que já se reconciliaram assim tantas vezes, embora desejem fazê-lo já não conseguem. O encontro desses olhares é cheio de vergonha, de culpa, por terem sido tão egoístas e orgulhosos, por terem deixado as coisas chegarem a esse ponto, de ambas as partes. Mas talvez seja uma fase, talvez um dia consigam  se perdoar pelo erro e encarar o outro, talvez.
Depois de passados três anos sem nenhum contato com alguém que tanto amei, e amei de todas as formas imagináveis, e consequentemente de todas as formas também me feri. Depois de tentar esquece-lo, depois da paixão acabar, da amargura passar o orgulho desfez suas barreiras lentamente. E ainda vislumbro um amor, aquele que um dia dissemos um pro outro que nunca acabaria, aquele que você me disse que não acabaria mesmo que nossos caminhos fossem diferentes. E de fato foram. Mas me sinto tão feliz hoje, de ver que esse amor de amizade ainda existe, mesmo que seja lá no fundo, mesmo que seja um pouco. Tudo está explicado, não se faz necessário nenhuma conversa séria, tudo se dissolveu, se resolveu como sempre. E sinto uma paz... depois de achar que esse reencontro nunca mais seria possível, sinto que nossa amizade não mudou e ao mesmo tempo se renovou, tudo é diferente e igual. E ainda entendo o seu olhar, depois todos esses anos afastados, ainda entendo suas atitudes e sei que está tudo bem, enfim. Achei que já havia gastado todas as palavras pra falar de nós e que já não faria mais sentido escrever nada depois de 3 anos, mas faz: que bom te ver!




o outono que fomos

Estamos no outono de novo, faz frio e chuva e eu conheci uma pessoa hoje, mas só me lembro de você. E o que dói nisso tudo, não é o frio em si, que eu gosto, mas sim um fato: conheci uma pessoa, mas esse tempo sou eu e você um ano atrás. Esse vento é o mesmo da sua respiração, a mesma temperatura das suas mãos frias escondidas por debaixo do meu cabelo, no meu pescoço, enquanto eu conversava com outra pessoa e tentava disfarçar a sensação. Tem o som das nossas risadas como se estivéssemos sendo discretos, naquela nossa terceira primeira vez. Tem a mesma chuva que chovia enquanto você deitava a cabeça no meu colo quando nos deixaram sozinhos. O sopro gelado é o mesmo, as ruas molhadas, o chão do estacionamento do supermercado empoçado... Tudo é idêntico faltando você.
A quentura da minha cama, das minhas cobertas no meu quarto, a noite é a mesma de um milhão de noites de conversas nossas, faltando a sua voz. Quando começávamos uma discussão idiota e eu largava o celular e virava pra parede tentando dormir, te ignorando de propósito, começando a ficar com raiva depois pela sua demora para responder, e então quando estava quase pegando no sono, achando que você tinha levado a sério demais a brincadeira,  o celular começava a tocar freneticamente e eu sabia que era você. Tentava continuar fingindo que estava dormindo, rindo da previsibilidade, do nosso jeito idiota, da nossa sintonia... E acabava te respondendo minutos depois e nossa conversa engatava de novo que só percebíamos quando era 4 horas da manhã.
Dias e dias se passaram assim, eu e você e tudo que nunca vai ser possível explicar que existiu. Quando você me disse, numa dessas nossas conversas de semelhanças, que se a gente ficasse junto não iríamos sair de casa, porque nesse tempo preferimos ficar embolados, comendo pipoca, vendo os filmes e series que gostamos... Que falou que eu era sua e você era meu, e tantas outras coisas.  Mas como é possível explicar isso pra alguém? Como explicar isso que a gente tinha tao abstrato? Como explicar essas pequenas coisinhas, essas pequenas demostrações da convivência desse nada que tivemos, com todas as nossas conversas, nossas semelhanças, nossos segredos...  Como posso dizer que isso foi nada? Mas não sei explica-lo. Isso, que pra mim foi tão especial, não tem nome.
Os meses passaram e eu tô até hoje tentando entender o que aconteceu com a gente, com você. Em que momento passou a depender tanto de você a nossa paz. Talvez meu erro tenha sido acreditar que, como tantas outras histórias, a nossa também poderia começar assim, com uma amizade que dá tão certo  e escapa sem querer virando algo maior. Passei dos limites tentando recuperar nosso jeito de antes, sozinha. Nossas conversas sem fim, nosso companheirismo leve que não contava hora e até do seu jeito estranho de dividir as coisas comigo, seus áudios tossindo de manhã, as fotos dos pratos que estava comendo, a louça lavada, o café, as piadas... Mas de repente fiquei sozinha nisso.
Conheci uma pessoa hoje, mas não consigo enxergar alguém depois de você, procurar outro corpo depois que conheci o seu. Não consigo fingir que ainda não sei o que é estar completamente aberto e a vontade com quem gostamos, me forçar a acreditar que existe outra pessoa por aí em quem eu queira me aninhar novamente, que não seja você. Não consigo acreditar nisso, que vou me sentir daquele jeito outra vez. Eu tento, mas não consigo. Como posso sonhar com o rosto de outra pessoa depois de pegar no sono olhando os teus olhos dormirem? Me sinto ainda mais sozinha, ainda mais sem você nesses dias que tudo é igual, uma repetição do passado, de um ano atrás.
Nós que não deixamos nada pra voltar atrás, presentes para devolver, nem roupas para buscar. Que perdemos os amigos e a amizade nessa coisa sem forma, que não foi nem um relacionamento de verdade para terminar, nada que exigisse uma conversa pessoalmente para resolver a situação com o mínimo de respeito... apenas seguimos nossos caminhos apartados, pois não guardamos nenhum pretexto pra voltar. Guardamos apenas a hipocrisia, de fingir não ter sido nada, de fingir que ainda somos amigos.
Não tivemos testemunha de como, nem de quando começou e assim acabou, sem ninguém para intervim por nós. Um segredo que nunca mais falaremos, nem com você, nem comigo e só caberá aos olhos a recordação. Olharei pro chão, engolirei o choro... aquilo que poderia ter sido uma historia, desapareceu. Não ocupa lugar, não tem retrato nem documento, não existiu! E só lembra quem quer.