quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Café da tarde

Voltando do banco a tarde, passei por um casal de senhores que aparentemente falavam ao telefone com a filha, o senhor chegava da rua com uma sacola de pão, se aproximava do telefone e falava "sua mãe vai passar um cafezinho agora, comprei pão..." e o resto não pude ouvir, mas aquilo me pegou de uma forma! Senti um misto de sentimentos...fiquei me perguntando se um dia vou ser essa senhorinha, e chegar aquela idade com o companheiro de uma vida toda... e ao mesmo tempo, pensei nos meus pais, e quis ir pra esse café. 

Há quantos anos não tomo um café com os meus pais, juntos. Algumas coisas simples da vida, simplesmente passam, as vezes cedo demais. Me lembrei da época que meu pai ainda trabalhava e chegava em casa para o café, eu era uma criança e imitava ele tirando o miolo do pão sem nem fazer ideia da razão daquilo. Faço até hoje. E lembrei também de dias recentes , porque pra mim ainda é muito recente, de sair esse horário para ir ao Banco pra ele e passar no supermercado para comprar o pão, fazer nosso café... depois limpar a sujeira que ele fazia na mesa, os remédios espalhados...  

Só uma mãe sabe o sentimento de deixar o filho com alguém ou na escola para voltar a trabalhar pela primeira vez, o enorme sentimento de culpa e medo, que praticamente sufoca a sensação de alegria de poder voltar a rotina, da liberdade... só quem é mãe ou quem já foi "mãe" dos seus próprios pais conhece essa sensação. Algumas coisas nós só sabemos o valor depois e esse depois as vezes é tarde e as vezes, cedo demais.


23/05/22

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

A ironia da saudade

Saudade é irracional, é uma injustiça, que registra apenas a parte boa, os momentos bons. Jamais se corrompe pelo que aconteceu de ruim, o que causou o fim. É uma imagem sempre clara e brilhante dos momentos bons que foram vividos sem as manchas dos erros que vieram depois. Tem suas próprias proporções, pois não é medida pelo tempo mas pelo tanto que aquela pessoa conseguiu fazer florescer dentro de nós. 
Saudade é desaprender a andar sozinho e caminhar constantemente de mãos dadas com uma falta. É como não ter mais um membro e ainda senti-lo. É abrir a boca pra contar algo e se deparar com um vazio. É falar sozinho esperando que as palavras possam encontrar aquela pessoa de algum jeito e conseguir ouvir sua resposta em meio ao eco que restou. 
É lembrar do ontem e querer sorrir sem conseguir. É tentar buscar o ar quando uma lembrança de nós dois surge comprimindo o peito. É ter medo de adoecer de novo longe da preocupação do outro e nunca melhorar. É ter medo de não estar mais na mesma página, pior ainda: no mesmo livro. A verdade é que saudade quando bate a gente nunca sabe como se defender, apenas aceita o golpe tentando não contorcer o rosto e continuar de pé.
O coração quase nunca aceita que acabou, não se importa com o que aconteceu, com quem errou, porque a saudade é irracional, é uma ironia. Quando matam o amor, ele arranja um outro jeito de existir e vira então saudade. Saudade é a sobrevida do amor, é a esperança de que o amor continue em algum lugar, a esperança de que alguma parte de nós continue se procurando mesmo que em segredo, o desejo de estar vivendo apenas o adiamento de uma história que tem continuação.
Saudade é querer saber o que você faz agora que te faz não lembrar de mim. É ter um diálogo sozinho e adivinhar exatamente o que o outro diria sobre qualquer coisa... ver e ouvir suas críticas perfeitamente nos seus traços e no seu sotaque. É experimentar a cegueira de não saber mais da vida daquela pessoa e continuar caminhando, tateando no escuro, procurando uma saída, ou um caminho de volta. 
Alguém um dia disse que "Saudade é um relógio sem ponteiros" e é verdade. É sentir a agressão do tempo e não saber como revidar. Contar o tempo de algo sem previsão, contar os minutos pra que seja ontem. Mas sempre é amanhã.

domingo, 30 de dezembro de 2018

Na lembrança da minha saudade

Não serei hipócrita, nunca fui. Nem incoerente comigo mesma dizendo que não sinto nada. Que no dia que assisti aquele filme que íamos ver juntos, aquele que te obriguei a assistir o trailer, vigiando a cada segundo se você  não estava dormindo, que o meu choro foi apenas por causa dele. Eu chorei nas cenas que assisti com você, chorei porque você não estava ali comigo e eu queria tanto que estivesse, eu chorei o filme todo lembrando da gente aquele dia. Eu ainda sinto muito, quando lembro de você me dizendo que leu o texto que eu escrevi sobre a minha mãe, me oferecendo seu ouvido, caso eu quisesse  conversar  a respeito, apesar do momento que  estávamos... Eu sinto saudade. Saudade do seu cheiro. Não só do seu perfume, mas do seu cheiro, que é uma mistura do seu perfume, com cigarro e "halls". O cheiro que o seu casaco tinha. Sinto saudade do cheiro de shampoo do seu cabelo. Saudade de você beijando meus olhos, um por um. Da sua mania de bagunçar minhas sobrancelhas, de segurar meu cabelo e dobrar as pontas enquanto a gente conversava. Sinto saudade de te olhar nos olhos enquanto você punha meu rosto no colo das suas mãos e beijava minha testa. Lembro de você contando o tempo que  faltava pra eu fazer 30 anos e quanto tempo faltava pro meu aniversário, quando a gente tava conversando sobre casamento e datas, porque era dia 26. E das vezes que você ficou medindo meu olho falando que ia fazer uma tatuagem dele. Sinto saudade do jeito que você dormia abraçado em mim a noite inteira, e até dos seus espasmos que as vezes me acordava. Lembro da expressão que mais gosto do seu rosto, quando você sorria de boca fechada, com uma cara de menino enquanto tentava me entender, sempre com suas perguntas, seus "por quês" infinitos. Saudade do jeito que você sorria balançando a cabeça das bobagens que eu dizia. E de quando você me explicou que as vezes eu te olhava com um olhar de quem ta querendo intimidar e que achava que isso podia fazer outros homens terem medo de se aproximar de mim, mas que você não tinha medo, apesar de eu não fazer ideia de que estava te olhando daquele jeito. E me lembro da última quarta feira que você me deixou em frente ao meu prédio, a última vez que você me esperou fechar o portão, pra me jogar um beijo, como sempre. Naquele mesmo dia 26, que você estava com a garganta ruim achando que estava com febre e eu saí de casa correndo, carregando termômetro e os remédios que havia comprado pra você, mas acabamos no bar em frente a sua casa tomando cerveja, pra depois comer o hambúrguer de sempre que você dizia não gostar. Sinto saudade de estar dentro da sua vida, da sua casa, do seu abraço. Saudade de te ver se arrumando, de quando te ajudei a escolher que blazer usar e a procurar um cinto no seu armário que combinasse com a sua  roupa... De vestir suas camisas... Saudade do seu sotaque e de implicar com você por causa dele, de ouvir suas histórias, da sua mania de falar as coisas no diminutivo que as vezes me irritava. Saudade de te ver dormir, de embaralhar as nossas coxas, de te ver suado com o cabelo molhado depois do amor que a gente fez. Saudade das quartas feiras de jogo do Flamengo e chope e de dançar com você. Do jeito que você me tinha, das suas mãos sem pudor. Saudades do seu colo. De te ver me esperando em frente ao meu prédio com a roupa do trabalho pra gente almoçar. Sinto saudade da sua preocupação quando eu estava doente... Sinto a falta dela agora que a febre parece se aproximar de mim e você não está aqui, diferente de quando tudo começou. Sinto saudade de tanta coisa desse nosso pouco tempo, saudade até do que imaginei que aconteceria. E é tanto que confesso que as vezes queria apenas arranjar um jeito de voltar no tempo pra nossa ultima noite de sono, mais precisamente, pra dentro do seu abraço, de estar perfeitamente encaixada dentro dos seus braços e das suas mãos e nunca sair. Como explicar as coisas que queríamos que tivesse acontecido mas que não aconteceram porque não houve tempo, ou a oportunidade? Talvez, nós dois, não era pra ser mesmo pra sempre. Era pra ser isso, passageiro, por algum motivo que eu desconheço e não me conforta. Muito pelo contrário! Mas talvez seja. É que tem dias que a sua falta grita tão alto que eu até acredito ser possível que você sinta daí. Mas, como explicar pro coração que não?
De qualquer forma, apesar de todos os pesares, eu ainda lembro.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Miragem de agosto

A vida é isso, uma surpresa. Nós nos limitamos e nos agarramos aos nossos traumas e achamos que acabou, que não tem como mudar. Que a vida é curta pra encontrar o que procuramos, nos antecipamos ao tempo e esquecemos que não sabemos de nada. Eu achava que não tinha mais jeito, que não encontraria alguém. Não sei ainda se encontrei, mas não conseguia pensar em ninguém que pudesse me abrir de novo. Em tantos rostos conhecidos não via ninguém cujas feições demonstrassem que poderia me fazer mudar de ideia. Ninguém que me interessasse conversar, achava que ninguém quisesse se aprofundar em mim, em saber quem eu sou, que quisesse atravessar a proteção que criei, insistir... Não imaginava mais ser possível deixar alguém entrar na minha loucura, explicar meus caminhos, meus tombos, minha vida capenga... Eis que Ele aparece, do nada, quatro anos depois pra mudar tudo isso dentro de mim.
E nem foram suas feições que eu já conhecia que me cativaram de início. Ele veio embrulhado num jeito doce e cuidadoso que nunca foi capaz de me mostrar antes. Me apresentou primeiro seu lado de dentro pra que, depois, eu pudesse enxergar o lado de fora e ir mais fundo. Foi abraçando o meu jeito, me desarmando, de pergunta em pergunta me folheando, me conhecendo... Com sua atenção e carinho, foi me ganhando, me encontrando por outros caminhos. Quando me dei conta, lá estava eu às 5h da manhã, toda interessada em entender aquele alguém que eu achava que conhecia, me dando uma chance outra vez, aprendendo tudo de novo. Fui me permitindo conhecer aqueles outros olhos, outra pele, sentindo meu coração sorrir outra vez.
Da última vez que me quebrei achei que nunca mais juntaria meus pedaços de novo. Depois de caminhar com cuidado o caminho da intimidade, me doar, de me encaixar em alguém, tive que me acostumar a não ter mais aquilo, tive que fingir não ter acontecido nada e tive a certeza de que nunca mais encontraria alguém que me aninhasse tão bem. E a vida riu de mim. 
No primeiro dia que ficamos juntos já percebi que havia me enganado redondamente esse tempo todo. O primeiro contato foi aquela falta de jeito, ele chegando perto de mim sorrindo, vindo me segurar falando que não acreditava que tava acontecendo aquilo, depois de tanto tempo de conversa sem poder nos vermos pessoalmente. Eu, indo pra um beijo no rosto. Não sabíamos se nos abraçávamos, ficamos no meio, desencontrados. E aí nos encaixamos, fomos caminhando do meu prédio pro dele abraçados: eu nele e ele em mim. Assim. No nosso primeiro contato cara a cara depois de anos. No elevador nos beijamos.
Foi um atropelo e eu me assustei com a rapidez, me assustei com tudo de novo que conheci de uma vez, tive medo de ter estragado algo que estava indo tão bem... Tentei dar um passo atrás, porque não sabia ainda o que sentia e o pedi calma. Mas percebi que era uma tolice deixar o medo decidir nosso desfecho, não dar a chance da vida nos apresentar de novo. E então, quando nos encontramos a segunda vez, naquela quarta-feira pra assistir o jogo do nosso time juntos no bar, perdendo as contas de quantos 'chopps' tomamos em meio a nossa conversa leve, aos beijos na testa e risadas, perdendo a hora... tudo mudou dentro de mim, tudo fez sentido! Os olhos dele mudaram, o beijo mudou... porque naquele dia meu coração o enxergou também. Não conseguia acreditar que tinha encontrado tudo que eu procurava em uma pessoa que eu já conhecia. E eu, que havia pedido a ele calma, de repente me vi abraçando todos aqueles planos precoces que ele fez pra gente.  
Senti meu coração sorrir quando o vi me esperando em frente ao meu prédio pra me levar pra almoçar, lindo... Redescobri como é a vida e todas as suas cores quando o coração está feliz. Como é ser recebida com um 'sou muito sortudo' sussurrado no ouvido, depois do beijo. Como é receber um carinho, um olhar atento, aquele olhar de quem está mergulhado dentro da gente, de beijar como adolescentes na calçada sem se importar com os olhos dos outros, de saber que se tem o tamanho perfeito do abraço, encontrar um ninho. Encontrar alguém que faz a nossa esperança florir, e nos mostra que reciprocidade existe. A vida não é pequena pros nossos sonhos, a vida é grande. A vida é uma surpresa boa.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

O que o cuidado diz

Quando a gente sente falta em ter alguém, geralmente é porque sentimos falta do cuidado do outro com a gente. A gente espera no amor o que pode receber e não percebe que essa parte, apesar de "mesquinha", é necessária, mas também é óbvia. Tão óbvia, que as vezes nem é amor, as vezes é outra coisa.
Naquela segunda-feira, que nossa conversa entrou na madrugada, e você falava de tantas coisas, de planos que eu nunca imaginei que você tivesse, e começou a falar da tal situação no trabalho que estava te angustiando, eu te disse pra ter paciência que tudo se resolveria, entre outras coisas. Foi uma das conversas que tivemos que nunca me esqueço, e que hoje fica voltando no meu pensamento... quando então me dei conta que o amor, nobre como é, se revela no momento que a gente percebe que a felicidade que mais nos preenche, é a que sentimos no cuidado que damos. Muito mais do que no que recebemos.
Eu, que sempre procurei alguém pra me cuidar, te conheci e quis tanto cuidar de você, conhecer os seus receios... Eu, que pareço conhecer a vida muito menos que você, quis te falar de fé, como se fosse algo do qual você nunca ouviu falar. Quis te fazer uma oração, quis te dar certezas sobre as coisas que você falou pra mim, mas que hoje nem sei se foram verdade. 
Eu acreditei em você, me abri inteira pra ouvir a história que você me contava e quis ser o seu suporte. Me fiz forte pra te permitir ser vulnerável, pra  poder ouvir qualquer coisa que você quisesse falar, por mais triste ou complicada que fosse, pra que eu pudesse te mostrar que estava do seu lado pro que você precisasse, pra permitir que você fosse um pouco mais esse alguém que não sabe tudo sempre. Quis te ensinar o que aprendi com a dor e com o amor de quem ta junto da gente, mesmo eu, que vivi a maior parte da minha vida com uma falta sem tamanho. 
Você me falou naquele dia da sua agonia, me contou suas dúvidas, as decisões difíceis que teve que tomar... E eu, fui toda ouvido e atenção. Porém, queria mais, queria estar perto, queria te dar um afago, te pôr nos braços... Queria ser a família que você não tem aqui. Queria ser sua amiga, sua cúmplice e confidente. Queria ser seu lar e te guardar dentro de mim. Queria ser o seu descanso e o seu ninho, pra te ver sempre voltar. 
Queria ter ido mais fundo, e alcançar o seu passado, entender tudo que já te magoou, comprar sua briga, fosse ela qual fosse. Eu, que sempre me senti quebrada, sempre me senti desfalcada, de repente me senti grande, o amor me expandiu... eu quis juntar os seus pedaços, te fazer inteiro onde faltasse alguma parte, quis te completar, te salvar de qualquer dor, preencher todos os seus vazios com o meu cuidado. Quis te defender da vida, que as vezes é injusta demais. 
Queria ter tido mais conversas como essa, mais desse você que tem medo e insegurança, e ser a pessoa que te tranquiliza, que te abraça do lado avesso, ser o dicionário dos seus sentimentos. Queria o pacote inteiro, ver mais desse seu lado, de te ouvir chateado pra  depois ver seu alivio com uma conversa nossa. 
Eu, que sempre adio tudo, estava disposta a virar a  noite  pra conhecer os seus dilemas, a te emprestar minha dedicação quantas vezes precisasse. Ser mais esse lugar onde você se despi e é o que é, muito além da imagem que tenta passar. Aprender a ser mais positiva com a vida pra te ensinar a acender as luzes dentro de você. 
Porque quando a gente gosta de alguém a gente faz uma divida com a felicidade, compra fiado pra dar pro outro e depois da um jeito de quitar. Que, na verdade, o amor é essa generosidade em exagero, que nos atravessa pra resgatar o outro, é um "querer bem" que nos toma de uma forma inexplicável, onde os braços do carinho querem envolver tudo: passado e futuro. Uma ânsia de se doar pro outro pra se sentir seguro. É essa busca estranha por encontrar alguém que saiba receber o nosso cuidado, alguém disposto a mostrar o seu lado mais frágil, para assim, conhecer o melhor de nós.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

o que fica depois do soco

A sensação, apesar de conhecida, é de não acreditar, de querer estar errada, depois é um vazio. Como se aquela pessoa que a gente gosta tivesse puxado seu tapete e você estivesse no ar tentando entender o porquê. É uma sensação de nada crescendo no meio da gente, de estar sendo drenado e a gente só sabe que não vai desmoronar porque nosso coração, nesse primeiro momento, bate com raiva, a dor mesmo, vem depois. É a sensação de que você foi roubado. Roubaram o que a gente deu, como se a gente tivesse se doado e depois perdido por quem ganhou. Como se a gente tivesse se emprestado e não tivesse sido devolvido. O que a gente esperava receber de volta, de cuidado, de lealdade, fosse confirmado: não terá devolução. Se perdeu pra sempre. Foi quebrado e não há conserto. Ter a confiança traída é sempre assim, é sempre um crime, um desvio de finalidade, um latrocínio: dei tudo que tinha de valor e ainda perdi a vida, ainda perdi a esperança. É sempre a certeza do desperdício. É sempre uma uma agressão inesperada, de quem a gente só sabe esperar amor. Uma violência com os planos que a gente fez, com as possibilidades, que nos foram tiradas sem aviso. É descobrir que a outra pessoa sepultou aquele sentimento e não te contou. Uma sentença de morte. Aliás, a traição é sempre uma história que nos contaram por último, tarde demais. Uma conclusão encoberta. É como um soco no estômago, que na hora deixa a gente sem ar, e depois só deixa a dor.

sábado, 24 de março de 2018

O que me faltou te dizer

Imagem de one day

A vida é uma prova, ela te faz a pergunta, mas as vezes só nos dá a resposta muito depois...  Eu queria saber disso antes, naquela época, mas só entendi agora.

Sempre conversamos tanto, mas nunca conversamos da gente de verdade. A única vez que chegamos mais perto disso foi no episódio da foto, quando brigamos e eu te chamei aqui pra conversar. Você, todo diplomático, não queria magoar ninguém, não tomou posição nenhuma e eu odiei! Sinceramente, quando lembro, nem acredito que fiz isso, que te fiz vir aqui só por isso, que  escolhemos sentar no banco do último bloco do prédio pra ter uma conversa que deve ter durado 15 minutos, ou menos. Eu podia ter falado mais, podia ter sido uma conversa sobre tudo, sobre o que eu sentia. Mas não foi. Você também não me questionou. Terminamos o assunto, te acompanhei até  a frente do meu prédio e sei lá por que, quando nos despedimos, nos beijamos e o intuito da minha conversa foi pro espaço. 
Até hoje não sei dizer o que o nossos olhos conversavam, sempre tinha algo que parecia ir além do amor de amigo, maior do que o carinho de duas pessoas que ja "ficaram" várias vezes "aleatoriamente", mas nós nunca confirmamos com o outro, nunca fomos atrás dessa certeza que só uma conversa franca nos traria. Nunca arrisquei te explicar o meu amor de olhos abertos, nunca arrisquei te falar e talvez não segurar o choro em meio as falas, nunca arrisquei não conseguir terminar as palavras pela emoção, nunca tive coragem de te falar da gente. Apesar de você conhecer muito, nunca me expus pra você a esse ponto, e me arrisquei te assustar e talvez te perder pra sempre. Ou não. Como nos perdemos. 
Eu fiquei esperando que a atitude partiria de você e talvez você tenha esperado o mesmo de mim, pra que aquilo se tornasse real, e não apenas um monte de suposições, de quase certezas, de versões de uma história que já estava acontecendo, mas que não aconteceu só porque a gente não disse que era real. Foi! Esperei que viesse a segurança de ter certeza que você me amava pra depois pular e só hoje entendi, que amar, muitas vezes, é justamente o contrário, pular sem nenhuma certeza, pra depois se descobrir seguro. Eu tive medo, tive medo da queda e me quebrei do mesmo jeito. Nunca imaginei que o amor pudesse ser assim tão complicado. 
Todas as vezes que estávamos juntos e eu dizia que te amava e você retribuía, eu nunca te perguntei em que sentido você estava falando, e eu precisava da certeza. Mas acho que tive medo de estragar o momento, jurei que você não saberia me explicar, que daria uma resposta evasiva como da outra vez... E talvez dependesse de mim, te falar o óbvio pra que você pudesse entender o que sentia. 
Naquela última vez que você veio aqui tudo parecia tão natural pra você, nós dois. Você me  cumprimentou com um beijo, como se fosse ter amanhã, como se isso fosse a nossa rotina. Eu me lembro tão bem daquele dia, o quanto eu estava feliz, transbordada, que nem me lembrava que não fazia ideia de quando nos veríamos de novo. Por que eu não te disse o que eu estava sentindo? Porque não te falei que o que eu queria era que você ficasse pra sempre? Porque não te pedi pra voltar no dia seguinte?
Sei que não tentei de tudo, que não apostei tudo. Mas nunca pensei também que fosse possível duas pessoas se amarem de tantas maneiras e ao mesmo tempo não conseguirem fazer esse amor acontecer. Não sei se foi o nosso caso e certamente nunca saberei. Mas hoje sei, que a vida exige coragem da gente, justamente, nos momentos que nós achamos que ela vai se encarregar de nos mostrar o caminho certo, porque o sentimento não vem com a imposição, nem com convencimento. Estamos sempre esperando um sinal da vida pra dar o próximo passo, enquanto ela nos observa querendo que nós tenhamos coragem, que a gente se arrisque. Mas só hoje eu consegui entender isso. 
Fomos imaturos e orgulhosos, a vida carregou tudo... a gente tinha um tempo pra se resolver e não sabia. Te amei tanto que achei que era transparente pra você, que tudo que já tinha te dito era suficiente para explicar o que sentia, tudo que te escrevi, todos as metáforas, as músicas que usei... Mas não foi. 
Tantos anos se passaram e só hoje me dei conta disso. Estou chorando enquanto escrevo porque nós complicamos tudo sem razão. Talvez sejamos sempre esse "e se" que depende de respostas que a vida nos tomou a oportunidade de perguntar... Ou talvez um dia possamos ter essa conversa que nunca tivemos... um dia, quando eu tiver encontrado alguém também, como você encontrou. Porque sei que é impossível hoje, e não farei isso porque não tenho e nem nunca tive a intenção de causar nenhum problema na sua vida... Mas manterei a dúvida no futuro onde tudo é possível e inacabado.
Sei que nosso tempo passou, mas só estou voltando nesse assunto hoje porque numa conversa esses dias, de alguma forma, consegui enxergar coisas que nunca tinha enxergado dessa nossa história. Talvez tenha sido a sinceridade de ouvir de outra pessoa que eu também possa ter contribuído para que esse "nós" nunca tenha se realizado, talvez tenha sido a clareza de ver mais uma vez que nossas vidas seguiram caminhos diferentes e nada mais é simples como antes. 
A verdade daquela conversa me golpeou, e eu, que nunca choro em público, fui surpreendida com um nó na garganta que há muitos anos não sentia e quase não pude conter as lágrimas, quase não consegui forçar minha voz, que ameaçava falhar... porque sempre escrevi muito da gente,  mas nunca tinha falado tão abertamente com alguém todos os sentimentos tão confusos que ainda sinto por você, e foi muito difícil segurar a emoção que me tomou. 
Hoje eu sei que falhei com a gente, com o "nós" que sempre quis, que fiz muito, mas não fiz o mais importante. Mas, sobretudo, percebi que de tudo que existe em mim, de tudo que poderíamos ter sido e  não fomos, o amor que sempre vou sentir por você é a minha única certeza.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Entre o suspiro e o grito

A falta esmaga o coração da gente, num indagar incessante do que aquela pessoa esta fazendo naquele momento,se ainda lembra de você, se ainda está sozinha ou se arranjou alguém... um monte de "se " que ficam rodando em nossa cabeça. 
E a gente se pergunta se estar separado é só uma pirraça do orgulho. Acredita que é só isso. Quando a gente gosta tem uma tendência a achar que é só isso, numa esperança que nasce sem a gente querer, como uma praga. A gente sempre acha que é importante pro outro, nunca enxerga que o problema (ou o engano) é esse e não o orgulho.
Eu não fugi a regra, hoje percebo. Desejei tanto que você voltasse que tentei ignorar a sua mudança naquela nossa primeira conversa. Alguma coisa estava errada mas decidi não dar atenção, resolvi esperar o dia seguinte. Acreditava que no outro dia encontraria aquele "você" de antes, me contando alguma coisa, fazendo alguma piadinha cheia de segundas e terceiras intenções e tudo estaria bem.
O dia seguinte chegou, o outro também... as coisas pareciam voltar ao normal, depois não. Sentia voce indiferente, intercalado com uns dias bons... E me perguntava se estava louca, se teria acontecido alguma coisa que mudou você por dentro, ou se eu estava pensando demais e guardava comigo...até a proxima atitude estranha acontecer.  Tentava te ler, compreender o que se passava dentro de você,  ia tentando me adequar a sua inconstância da melhor forma que podia, mas era como se esse tempo longe tivesse apenas nos deixados as diferenças, de todos esses anos que nos conhecemos só tivesse nos restado os últimos momentos de desencontros, a parte ruim de você e de mim,  onde tudo que se ouve parece estranho, e o que se fala é frustrante... A gente nem conseguia mais conversar. Quem diria!
Achei que teríamos nossas conversas divertidas e fáceis de novo, sobre o dia, ou qualquer coisa. Como quando nós ficávamos conversando sobre as músicas que gostávamos, e voce me mostrava as suas conversas com a sua mãe no meio da tarde, quando a gente conversava mesmo quando você estava bebendo com seus amigos e depois me mandava áudio às 5h da manha falando tudo embolado, repetindo 50 vezes que o sol nao ia te deixar dormir; quando você me mandava mensagem a tarde fazendo piada com o café...Enfim, quando sua vida caminhava ao lado da minha de algum jeito.
Achei que estávamos separados pelo orgulho e que se fosse para ter isso tudo de novo eu poderia voltar atrás por nós dois. Mesmo sabendo de todas as complicações envolvidas no que nós tínhamos, mas acreditava que voltariamos a ser os companheiros de antes, e pra mim, valia a pena. Mas talvez a memória só resgate os momentos bons...
Nada parece como antes, eu sinto que perdi tudo de nós, perdemos o caminho de volta para aqueles dias, mas ainda estou aqui, ainda estou tentando. Dentro de mim ainda tenho aquela esperança solitária e insistente, que só quem gosta possui, que sobrevive até mesmo a esse caos que nos tornamos, e nem sei bem dizer de onde a tirei, ou em que momento você me demonstrou algo no qual eu pudesse recorrer agora, pois já faz tanto tempo... Nesse momento eu não tenho nada, não tenho a mínima noção do que se passa dentro de você. E simplesmente nem sei de que forma é mais difícil, quando estamos separados ou juntos desse jeito. E isso me destrói!
Estamos 'bem' de novo, mas eu passo noites e dias inteiros me questionando se não estava redondamente enganada sobre tudo isso? Cada vez que nos desentendemos e eu acabo cedendo pra evitar uma briga, eu me desconheço, porque parece que estou me afastando de mim, faço tudo que sempre disse a mim mesma que nao faria e, ainda assim, parece que pra você isso não significa nada, e acho que só estou piorando as coisas.
Estamos "bem" mas eu não estou bem, porque nada do que fomos existe mais. Está tudo diferente, nada disso acontece mais, apenas os mesmos problemas. Estamos "juntos" e eu continuo com saudade de nós, dessas coisas. Estamos "bem" mas eu choro quase todas as noites, depois dessas nossas conversas desinteressadas, depois de todas as vezes que falo com você e fico sem resposta, me perguntando se nos falaremos no dia seguinte ou nunca mais. Estamos "bem", mas me vejo na mesma agonia de antes, tentando não ficar te esperando, tentando me ocupar até a raiva passar, pra gente não brigar, porque não quero reclamar a mesma coisa sempre, não quero brigar!
Mas ainda estou tentando, não sei por que, ainda estou buscando dentro de você aquela pessoa que gostava de conversar comigo, que se divertia na minha companhia, mesmo sentindo medo de me perder de mim em cada briga que tento evitar, respirando fundo, mudando de assunto e sorrindo enquanto sinto tudo doer, enquanto sinto você me empurrar pra longe sem palavras,  tentando entender se isso vai levar a gente, de fato, a algum lugar ou se só vai retardar um final que é inevitável.
Só queria que você voltasse a ser o que era antes comigo, que desse um pouco de valor por cada coisa que fiz pra gente ficar bem, que ao menos percebesse que eu estou tentando mudar e não errar o que errei antes.
Estou desesperada com isso, com essa sensação de que que estamos escorrendo pelo ralo, de querer de todo jeito impedir e não conseguir....sinto que preciso te ver, te encontrar em qualquer lugar pra mudar isso,  precisamos conversar olho no olho, pra ver se desse jeito somos menos brutos, pra ver se encontramos alguma forma de ficarmos bem... Ao mesmo tempo sinto também que independente do que eu faça, ja não adianta!
Sei que você me acha chata hoje, deve se perguntar por que eu fico sempre arranjando confusão, deve estar decepcionado pois achava que estar comigo seria mais fácil e na verdade é desagradável. Porque você não tem ideia de como estou me sentindo, meu peito está tão apertado porque em cada esperança que  meu coração planta você pisa e você nunca vai entender o quanto isso me machuca, porque você não sente por mim, o que eu sinto por você, essa é a minha conclusão. A nossa! Sinto tudo dentro de mim se encolher, porque a única coisa que percebo a cada esforço meu pra ficarmos bem é que a culpa é minha, de ter ido atrás de você se você nunca me disse que queria voltar. 
Dezembro de 2015