Essa casa grita a
falta dela, em cada coisa fora do lugar, está tudo torto, inacabado por causa
dela. Cada um de nós carrega uma limitação por faltar ela. Eu não sou inteira,
nunca serei, nunca serei normal por causa dessa falta, tenho plena consciência
disso.Se alguém algum dia me quiser saberá que esta levando alguém quebrada,
faltando uma parte, um objeto defeituoso, alguém cheio de traumas e fraturas.
Muitas vezes digo
que essa historia de ter um par e um amor constante me dá sono, que ainda quero
viver muitas coisas... porque aprendi a ser cínica, aprendi a mentir. Porque
tenho medo de gostar de alguém que não vá querer entrar nessa vida torta que
tenho, morro de medo de gostar de alguém que não vá suportar minha loucura. Eu
nem tenho coragem de abrir minha vida para alguém outra vez de caso pensado. Mas
eu finjo que não é essa a verdade.
Porque eu queria
sim amar alguém que me quisesse apesar de tudo. Todo mundo quer! Alguém que
escolhesse viver os meus medos, entrar no meu emaranhado, alguém que
conseguisse enxergar alguma vantagem em estar ao meu lado, ainda que eu mesma
não consiga.
Eu me sinto em
desvantagem, me sinto injustiçada em relação as outras pessoas, desprotegida. E
sei que ninguém tem culpa. E digo que aceito bem, que já nem choro quando falo
dela, mas também sou falsa! Porque as consequências dessa falta estão tão
entranhadas em mim, que as vezes acho que já nasci assim, despedaça, repartida.
E a vida é tão
simples para as pessoas que tem aquela família de porta retrato, completa, que
passa despercebido a grandiosidade que há por trás disso. Quando você tem
alguém pra avalizar seus passos quando tem um responsável por trás de todos os
erros que você comete, quando tem alguém pra recolher seus pedaços quando algo te parte ao meio. E eu sei que tenho. Tenho o melhor pai do mundo, o melhor
pai que poderia imaginar e não duvido disso nem mesmo um segundo. Mas preciso
da minha mãe, muitas vezes preciso apenas dela e ninguém mais!
Eu sinto essa
falta, sinto falta dessa mulher pra me espelhar, sinto falta da minha mãe
quando olho pra minha casa, quando olho pra mim e vejo que serei sempre uma
mesa manca, uma xícara sem alça. Quando entendo que não sou o tipo de escolha fácil e que o porque disso nunca poderá ser mudado, porque eu não posso traze-la de
volta, não posso mudar os caminhos que minha vida percorreu.
E eu sei que
ela sabe que eu sou forte também, que tento de uma forma meio errônea
assumir o papel que a vida me impôs, que impôs a nós. Que já apanhei muito pra
aceitar essa realidade e que muitas vezes as pessoas, com o intuito de me fazer
crescer, apenas me faziam lembrar que eu nunca poderia suprir a falta dela, porque eu não escolhi isso, não me preparei pra isso e nunca me prepararia, pra vê-la
partir tão cedo. E que eu também preciso de um colo, eu preciso ser filha, eu
preciso ser criança, ser protegida, preciso que ela me diga o que fazer, ainda.
Venho
tentando dar os passos certos, tomar as decisões certas desde os 10
anos, tentando sempre adivinhar o que ela me diria pra fazer... não tive pressa em virar mulher em alguns aspectos, porque em outros precisei ser mulher cedo demais, mas ainda erro, e
nessa altura da vida, ainda preciso dela, ainda preciso da sua orientação... e
sei que sempre irei precisar.
Sei também que onde
quer que ela esteja, não está gostando desse texto, porque sei que se fosse
permitido a ela escolher, ela teria escolhido ficar, com toda a dor e
sofrimento inerentes, pra que nada disso nos afetasse. E já antecipo as
desculpas, e peço que não se sinta culpada pelo que escrevi, porque sabemos que nada disso cabia a nós decidir. É esse é só o meu jeito de gritar, meu jeito de colocar pra fora tudo
que não seria capaz de dizer, de me
confessar, é a forma que inventei de pensar e continuar lúcida no meio dessa loucura.
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