segunda-feira, 17 de agosto de 2015

somos perfeitos antônimos


A gente se dá tão bem assim, sendo amigos que nunca concordam, quando somos confronto. A gente conversa batendo boca é assim o nosso jeito, o jeito que sorrimos, que damos nossas risadas verdadeiras. A gente se entende na contradição das palavras, é assim que fazemos sentidos, a nossa lógica é assim: contrariando o outro em tudo. É desse jeito que vamos bem, falando tudo ao inverso, é o nosso dialeto. Falamos sério brincando, brigamos sorrindo, discutimos o tempo inteiro e terminamos numa boa!
Mas quando nos inclinamos ao tratamento de casal, quando falamos a língua dos normais não nos entendemos. Fico chata, sem assunto, sem piada. Ele: seco. Perdemos a graça, o jeito. As palavras carinhosas de alguma forma se distorcem, as boas intenções são incompreendidas e acabamos brigando, de verdade.
Ele não é a minha paz, tampouco sou a dele. Embora ele diga que quer que fiquemos assim, a paz que ele me traz é ao contrário também, ele só é calmaria quando estou num turbilhão muito pior ou quando estamos em pé de guerra. Quando desejo ser doce e carinhosa,sempre penso numa maneira ao avesso para demonstrar, no mínimo termino ou começo a frase com um xingamento, uma crítica a ele, assim tudo se encaixa e tem graça.
O único momento no qual somos normais, um plágio barato de todas as outras pessoas é quando ficamos juntos, só eu e ele.  Aí sim, não temos nenhuma autenticidade, nada de excepcional.  Somos mãos dadas, carinho, chamego, sorrisos e olhares, cuidado... quando nos entregamos feito amantes, somos isso, sem nenhuma novidade, a não ser pra nós mesmos, porque queremos agradar o outro, confiamos nossa intimidade ao outro, somos parceiros, cúmplices, casal. Um clichê dos bons! Fora isso estamos sempre na contramão do outro, nos entendendo no desentendimento, no cinismo.
Mas aí, um dia do nada, ele começa uma briga por causa de um sonho meu com outro cara, totalmente sem importância, como se fôssemos mais, como se fosse um tipo estranho de ciúme, que eu nem entendo direito, porque nunca nos encaixamos nessa posição de casal, nunca fizemos esse tipo.
E aí eu penso que já vi tantas histórias de pessoas que seguiram o ritmo e as fases normais para se tornarem casal e acabaram mal, e já vi também histórias improváveis, que começaram tortas e deram certo que seria hipocrisia minha dizer que essa idéia da gente não me agrada. Seria falsidade dizer que não o imagino desse jeito, que nunca pensei que poderia ser a gente um desses casais estranhos, imperfeitos... porque de alguma forma já aceitei a ideia, já gostei sem saber bem como ela entrou nos meus devaneios, que o meu coração já quis isso antes mesmo de eu imaginar. E não seria surpresa se estivermos fazendo tudo ao contrário, se estivermos começando pelo fim, brigando tanto pra nos amarmos no final, porque somos o antônimo perfeito do outro, algum amor já deve haver.

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