domingo, 16 de julho de 2017

o outono que fomos

Estamos no outono de novo, faz frio e chuva e eu conheci uma pessoa hoje, mas só me lembro de você. E o que dói nisso tudo, não é o frio em si, que eu gosto, mas sim um fato: conheci uma pessoa, mas esse tempo sou eu e você um ano atrás. Esse vento é o mesmo da sua respiração, a mesma temperatura das suas mãos frias escondidas por debaixo do meu cabelo, no meu pescoço, enquanto eu conversava com outra pessoa e tentava disfarçar a sensação. Tem o som das nossas risadas como se estivéssemos sendo discretos, naquela nossa terceira primeira vez. Tem a mesma chuva que chovia enquanto você deitava a cabeça no meu colo quando nos deixaram sozinhos. O sopro gelado é o mesmo, as ruas molhadas, o chão do estacionamento do supermercado empoçado... Tudo é idêntico faltando você.
A quentura da minha cama, das minhas cobertas no meu quarto, a noite é a mesma de um milhão de noites de conversas nossas, faltando a sua voz. Quando começávamos uma discussão idiota e eu largava o celular e virava pra parede tentando dormir, te ignorando de propósito, começando a ficar com raiva depois pela sua demora para responder, e então quando estava quase pegando no sono, achando que você tinha levado a sério demais a brincadeira,  o celular começava a tocar freneticamente e eu sabia que era você. Tentava continuar fingindo que estava dormindo, rindo da previsibilidade, do nosso jeito idiota, da nossa sintonia... E acabava te respondendo minutos depois e nossa conversa engatava de novo que só percebíamos quando era 4 horas da manhã.
Dias e dias se passaram assim, eu e você e tudo que nunca vai ser possível explicar que existiu. Quando você me disse, numa dessas nossas conversas de semelhanças, que se a gente ficasse junto não iríamos sair de casa, porque nesse tempo preferimos ficar embolados, comendo pipoca, vendo os filmes e series que gostamos... Que falou que eu era sua e você era meu, e tantas outras coisas.  Mas como é possível explicar isso pra alguém? Como explicar isso que a gente tinha tao abstrato? Como explicar essas pequenas coisinhas, essas pequenas demostrações da convivência desse nada que tivemos, com todas as nossas conversas, nossas semelhanças, nossos segredos...  Como posso dizer que isso foi nada? Mas não sei explica-lo. Isso, que pra mim foi tão especial, não tem nome.
Os meses passaram e eu tô até hoje tentando entender o que aconteceu com a gente, com você. Em que momento passou a depender tanto de você a nossa paz. Talvez meu erro tenha sido acreditar que, como tantas outras histórias, a nossa também poderia começar assim, com uma amizade que dá tão certo  e escapa sem querer virando algo maior. Passei dos limites tentando recuperar nosso jeito de antes, sozinha. Nossas conversas sem fim, nosso companheirismo leve que não contava hora e até do seu jeito estranho de dividir as coisas comigo, seus áudios tossindo de manhã, as fotos dos pratos que estava comendo, a louça lavada, o café, as piadas... Mas de repente fiquei sozinha nisso.
Conheci uma pessoa hoje, mas não consigo enxergar alguém depois de você, procurar outro corpo depois que conheci o seu. Não consigo fingir que ainda não sei o que é estar completamente aberto e a vontade com quem gostamos, me forçar a acreditar que existe outra pessoa por aí em quem eu queira me aninhar novamente, que não seja você. Não consigo acreditar nisso, que vou me sentir daquele jeito outra vez. Eu tento, mas não consigo. Como posso sonhar com o rosto de outra pessoa depois de pegar no sono olhando os teus olhos dormirem? Me sinto ainda mais sozinha, ainda mais sem você nesses dias que tudo é igual, uma repetição do passado, de um ano atrás.
Nós que não deixamos nada pra voltar atrás, presentes para devolver, nem roupas para buscar. Que perdemos os amigos e a amizade nessa coisa sem forma, que não foi nem um relacionamento de verdade para terminar, nada que exigisse uma conversa pessoalmente para resolver a situação com o mínimo de respeito... apenas seguimos nossos caminhos apartados, pois não guardamos nenhum pretexto pra voltar. Guardamos apenas a hipocrisia, de fingir não ter sido nada, de fingir que ainda somos amigos.
Não tivemos testemunha de como, nem de quando começou e assim acabou, sem ninguém para intervim por nós. Um segredo que nunca mais falaremos, nem com você, nem comigo e só caberá aos olhos a recordação. Olharei pro chão, engolirei o choro... aquilo que poderia ter sido uma historia, desapareceu. Não ocupa lugar, não tem retrato nem documento, não existiu! E só lembra quem quer.

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