quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Café da tarde

Voltando do banco a tarde, passei por um casal de senhores que aparentemente falavam ao telefone com a filha, o senhor chegava da rua com uma sacola de pão, se aproximava do telefone e falava "sua mãe vai passar um cafezinho agora, comprei pão..." e o resto não pude ouvir, mas aquilo me pegou de uma forma! Senti um misto de sentimentos...fiquei me perguntando se um dia vou ser essa senhorinha, e chegar aquela idade com o companheiro de uma vida toda... e ao mesmo tempo, pensei nos meus pais, e quis ir pra esse café. 

Há quantos anos não tomo um café com os meus pais, juntos. Algumas coisas simples da vida, simplesmente passam, as vezes cedo demais. Me lembrei da época que meu pai ainda trabalhava e chegava em casa para o café, eu era uma criança e imitava ele tirando o miolo do pão sem nem fazer ideia da razão daquilo. Faço até hoje. E lembrei também de dias recentes , porque pra mim ainda é muito recente, de sair esse horário para ir ao Banco pra ele e passar no supermercado para comprar o pão, fazer nosso café... depois limpar a sujeira que ele fazia na mesa, os remédios espalhados...  

Só uma mãe sabe o sentimento de deixar o filho com alguém ou na escola para voltar a trabalhar pela primeira vez, o enorme sentimento de culpa e medo, que praticamente sufoca a sensação de alegria de poder voltar a rotina, da liberdade... só quem é mãe ou quem já foi "mãe" dos seus próprios pais conhece essa sensação. Algumas coisas nós só sabemos o valor depois e esse depois as vezes é tarde e as vezes, cedo demais.


23/05/22