sábado, 24 de março de 2018

O que me faltou te dizer

Imagem de one day

A vida é uma prova, ela te faz a pergunta, mas as vezes só nos dá a resposta muito depois...  Eu queria saber disso antes, naquela época, mas só entendi agora.

Sempre conversamos tanto, mas nunca conversamos da gente de verdade. A única vez que chegamos mais perto disso foi no episódio da foto, quando brigamos e eu te chamei aqui pra conversar. Você, todo diplomático, não queria magoar ninguém, não tomou posição nenhuma e eu odiei! Sinceramente, quando lembro, nem acredito que fiz isso, que te fiz vir aqui só por isso, que  escolhemos sentar no banco do último bloco do prédio pra ter uma conversa que deve ter durado 15 minutos, ou menos. Eu podia ter falado mais, podia ter sido uma conversa sobre tudo, sobre o que eu sentia. Mas não foi. Você também não me questionou. Terminamos o assunto, te acompanhei até  a frente do meu prédio e sei lá por que, quando nos despedimos, nos beijamos e o intuito da minha conversa foi pro espaço. 
Até hoje não sei dizer o que o nossos olhos conversavam, sempre tinha algo que parecia ir além do amor de amigo, maior do que o carinho de duas pessoas que ja "ficaram" várias vezes "aleatoriamente", mas nós nunca confirmamos com o outro, nunca fomos atrás dessa certeza que só uma conversa franca nos traria. Nunca arrisquei te explicar o meu amor de olhos abertos, nunca arrisquei te falar e talvez não segurar o choro em meio as falas, nunca arrisquei não conseguir terminar as palavras pela emoção, nunca tive coragem de te falar da gente. Apesar de você conhecer muito, nunca me expus pra você a esse ponto, e me arrisquei te assustar e talvez te perder pra sempre. Ou não. Como nos perdemos. 
Eu fiquei esperando que a atitude partiria de você e talvez você tenha esperado o mesmo de mim, pra que aquilo se tornasse real, e não apenas um monte de suposições, de quase certezas, de versões de uma história que já estava acontecendo, mas que não aconteceu só porque a gente não disse que era real. Foi! Esperei que viesse a segurança de ter certeza que você me amava pra depois pular e só hoje entendi, que amar, muitas vezes, é justamente o contrário, pular sem nenhuma certeza, pra depois se descobrir seguro. Eu tive medo, tive medo da queda e me quebrei do mesmo jeito. Nunca imaginei que o amor pudesse ser assim tão complicado. 
Todas as vezes que estávamos juntos e eu dizia que te amava e você retribuía, eu nunca te perguntei em que sentido você estava falando, e eu precisava da certeza. Mas acho que tive medo de estragar o momento, jurei que você não saberia me explicar, que daria uma resposta evasiva como da outra vez... E talvez dependesse de mim, te falar o óbvio pra que você pudesse entender o que sentia. 
Naquela última vez que você veio aqui tudo parecia tão natural pra você, nós dois. Você me  cumprimentou com um beijo, como se fosse ter amanhã, como se isso fosse a nossa rotina. Eu me lembro tão bem daquele dia, o quanto eu estava feliz, transbordada, que nem me lembrava que não fazia ideia de quando nos veríamos de novo. Por que eu não te disse o que eu estava sentindo? Porque não te falei que o que eu queria era que você ficasse pra sempre? Porque não te pedi pra voltar no dia seguinte?
Sei que não tentei de tudo, que não apostei tudo. Mas nunca pensei também que fosse possível duas pessoas se amarem de tantas maneiras e ao mesmo tempo não conseguirem fazer esse amor acontecer. Não sei se foi o nosso caso e certamente nunca saberei. Mas hoje sei, que a vida exige coragem da gente, justamente, nos momentos que nós achamos que ela vai se encarregar de nos mostrar o caminho certo, porque o sentimento não vem com a imposição, nem com convencimento. Estamos sempre esperando um sinal da vida pra dar o próximo passo, enquanto ela nos observa querendo que nós tenhamos coragem, que a gente se arrisque. Mas só hoje eu consegui entender isso. 
Fomos imaturos e orgulhosos, a vida carregou tudo... a gente tinha um tempo pra se resolver e não sabia. Te amei tanto que achei que era transparente pra você, que tudo que já tinha te dito era suficiente para explicar o que sentia, tudo que te escrevi, todos as metáforas, as músicas que usei... Mas não foi. 
Tantos anos se passaram e só hoje me dei conta disso. Estou chorando enquanto escrevo porque nós complicamos tudo sem razão. Talvez sejamos sempre esse "e se" que depende de respostas que a vida nos tomou a oportunidade de perguntar... Ou talvez um dia possamos ter essa conversa que nunca tivemos... um dia, quando eu tiver encontrado alguém também, como você encontrou. Porque sei que é impossível hoje, e não farei isso porque não tenho e nem nunca tive a intenção de causar nenhum problema na sua vida... Mas manterei a dúvida no futuro onde tudo é possível e inacabado.
Sei que nosso tempo passou, mas só estou voltando nesse assunto hoje porque numa conversa esses dias, de alguma forma, consegui enxergar coisas que nunca tinha enxergado dessa nossa história. Talvez tenha sido a sinceridade de ouvir de outra pessoa que eu também possa ter contribuído para que esse "nós" nunca tenha se realizado, talvez tenha sido a clareza de ver mais uma vez que nossas vidas seguiram caminhos diferentes e nada mais é simples como antes. 
A verdade daquela conversa me golpeou, e eu, que nunca choro em público, fui surpreendida com um nó na garganta que há muitos anos não sentia e quase não pude conter as lágrimas, quase não consegui forçar minha voz, que ameaçava falhar... porque sempre escrevi muito da gente,  mas nunca tinha falado tão abertamente com alguém todos os sentimentos tão confusos que ainda sinto por você, e foi muito difícil segurar a emoção que me tomou. 
Hoje eu sei que falhei com a gente, com o "nós" que sempre quis, que fiz muito, mas não fiz o mais importante. Mas, sobretudo, percebi que de tudo que existe em mim, de tudo que poderíamos ter sido e  não fomos, o amor que sempre vou sentir por você é a minha única certeza.

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