quarta-feira, 10 de junho de 2015

crime confession

Want!


 Já há algum tempo que nós dois não temos mais a inocência de antes, aquela que há entre duas pessoas que apenas cogitam, se imaginam tendo algo mais, nós ultrapassamos esses limites, nossos antecedentes estão manchados para sempre. Somos agora marcados pela tensão quando estamos juntos em público, receosos a todo tempo de que alguém perceba demais, em uma dessas vezes em que olhamos no olho do outro quando trocamos algumas palavras, no nosso jeito próprio de conversar, que alguém descubra o que aconteceu naquela dia. Eu meço minhas palavras, tento agir o mais normal possível, as vezes fico muda pra  não dar brecha às pessoas de nos observarem, nos estudarem, estudarem  nossos gestos, a inquietude que a proximidade nos gera, nossos risos meio presos, o olhar distante enquanto regressa a memória daquela noite... e perceberem que houve algo além desse nosso teatro. Mas aí voltamos a conversar, para não levantar nenhuma suspeita e você fala da sua casa, encenando uma perfeita distração na voz, como se eu não soubesse onde é, e eu finjo que não sei, finjo que nunca estive lá. Minto! Por vezes fico tentada a te mandar uma mensagem, agoniada por retomar nossa convivência de antes, e sentindo ao mesmo tempo medo de que você, ao contrario de mim, esteja se esforçando em não repetir os  erros que um dia cometemos. No entanto, basta alguns poucos momentos a sós para se perceber que deixamos algo inacabado que nos impede de regressar do ponto que paramos, nos impede de fingir para o outro que não existiu. Nós somos cúmplices do mesmo crime, mantemos as aparências de inocentes em frente as outras pessoas, mas quando estamos sozinhos  nossas conversas evidenciam o erro, nos incrimina!  O jeito que nos portamos mostra o que já fizemos, que sujamos nossas mãos juntos, que algo aconteceu. Há uma intimidade que acobertamos, pois estamos fadados a transgressão, a praticar todos os ilícitos que nos rodeiam, um crime no qual já estamos condenados a reincidir!

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