quinta-feira, 27 de agosto de 2015

chegou pra tomar um café, e ficou


De que serve a razão nessas horas? Nunca consegui usá-la. De que serve a razão depois que deixamos aquela pessoa atravessar nosso caminho de novo, depois de tudo, do afastamento, da estranheza... o que foi preciso pra que eu te deixasse entrar, como quem não quer nada aqui outra vez, cheio de passado, de recordações que não sei se estão latentes dentro de você ou não? Foi preciso o que?  Uma mensagem, duas, um reencontro ao acaso na pizzaria e pronto, estávamos conversando como os amigos de antes, cheios do cinismo divertido das nossas conversas, descobrindo, depois de tantos anos sem aquelas nossas longas conversas, novas afinidades, muitas! E alguns gostos divergentes... a  pizza de frango e de calabresa, minha paixão por doce e a sua indiferença. Gostávamos das mesmas series sem saber.  Na cabeça regressando a lembrança de uma loucura que ficou por terminar... As mesmas brincadeiras retornaram, assim, sem precisar de muito tempo, sem desculpas, sem perguntar da vida, sem pedir licença. Foi entrando como quem chega pra tomar um café, e ficou. 
Nessa hora já não usei a razão, deveria tê-lo feito, mas... Depois que começamos a conversar aquele dia, sem querer já não consegui ser racional e me utilizei de uma desculpa coberta de uma falsa razão pra te deixar ficar. Nós eramos amigos, não tinha nada demais conversarmos, o problema é que depois de umas conversas a intimidade de anos atrás já estava de volta e era impossível regressar um passo, o tipo de coisa que não tem volta, era hipocrisia depois de tudo ser indiferente. Você não queria namoro, nada serio pra agora, tinha muitas coisas coisas pra fazer, planos, carreira, estudo e eu também, um namorado me atrapalharia, tinha acabado de me formar, estudando pra concurso, talvez começasse a advogar, queria viajar... O que não deixava de ser verdade, me acobertei dessa desculpa pra continuarmos juntos, mesmo que sem futuro, mesmo que sem promessa, porque nos dávamos bem demais pra não experimetar.
Me pergunto aonde esteve a razão nessas horas, nas horas que estávamos juntos, sozinhos, ou até mesmo enquanto conversávamos e íamos nos despindo em palavras... me desarmei sem me dar conta. Mas me pergunto por que a razão foi tão fraca e não conseguiu me impedir de te ver, de te falar tantas coisas, que não me impediu de deixar você entrar nos meus sonhos, não foi suficiente pra me deixar afastada mesmo em todas as vezes que brigamos? A razão é muito fraca! E é tão difícil ser racional depois de um carinho, depois de um sorriso, depois de um beijo ou mesmo do olhar que antecede o beijo. Queria conseguir, mas confesso que, até mesmo longe dessas coisas, era difícil calcular o dano, o estrago, ser matemático e calcular a porcentagem de prejuízo que teremos no final...
Minha razão nunca foi rápida o bastante pra chegar antes dos meus sentimentos, pra me impedir de imaginar, de aceitar o primeiro beijo, de perder a vergonha com você, a razão nunca chegou antes de eu aceitar seus carinhos, nunca chegou antes da sua mão encontrar a minha, antes da sua boca encostar na minha enquanto sinal estava fechado, a razão nunca chegou antes de eu aceitar os seus braços abertos pra eu deitar, nem chegou antes de eu permitir que você deitasse a cabeça no meu colo, antes do carinho no meu pescoço, antes de todas as risadas que você abriu no meu rosto com suas piadas ridículas, com coisas que só nós dois sabíamos... nunca! A razão é sempre lenta, até mesmo quando penso em você, quando lembro... Ela sempre chega depois, com as piores conclusões, tardias, precisas... o sopro de um desastre, o eco de um desmoronamento que se aproxima acompanhada da tristeza. Ainda não sei se consigo ser racional, ainda hoje não posso afirmar, estou em silêncio aqui reunindo coragem e serenidade pra colocar um ponto final nisso, pra deixar tudo isso pra trás. Antes que eu crie uma outra desculpa pra te deixar ficar, antes que eu lembre de como era divertido nós dois juntos... Agora, depois de tudo.
E depois das lembranças da gente, de lembrarmos juntos de nós dois anos atrás, do que poderia ter acontecido, e esclarecermos tudo, cada detalhe tão vivo na sua memoria, coisas que nem eu lembrava... E nos vermos de novo e ver que a gente se dava bem demais pra que restasse espaço pra razão. Fomos então terminando o que tinha ficado inacabado há tantos anos, saboreando etapa por etapa, consumando nossa intimidade e nos abrindo anda mais, e nos olharmos diferentes... Porque era tudo diferente, nós eramos diferentes, os anos passaram e quantas coisas aconteceram em nossas vidas, as circunstâncias agora também tinham mudado e talvez houvesse uma chance pra gente...
Mas não entendo a mudança, não entendo o que houve de errado nesse meio tempo, se tudo era tão bom! E fico aqui a me questionar se confundi a razão, o propósito da gente - se há de fato um proposito para cada reencontro na vida - se o nosso era esse, apenas terminarmos o que deixamos em aberto? Poderia toda a nossa afinidade ter a ver só com isso? Esse propósito pra gente me parece superficial demais! Dentro de mim ainda está em aberto... lamento dizer.

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