quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

o tempo que insiste em voltar


No início havia algum tipo de paz, quando percebi que você não voltaria. Poderia me esquecer do celular, esquecer de propósito, pro hábito não me trair. Porque não seria você, a nenhuma nova mensagem, nenhuma ligação. Nenhum sinal seria seu. Tentei me cuidar mais mesmo sabendo que você não veria... 
Tentei mudar os hábitos, focar em alguma coisa, ler três livros ao mesmo tempo, estudar, me ocupar de todos os jeitos, preencher todos os espaços da minha mente. E fiquei bem, passei por aqueles momentos em que sentimos que já foi tudo superado, que estamos melhores. Quando conseguimos dar nossos passos firmes. Mas essa sensação de bem estar é uma ilusão que a saudade só desvenda depois. 
Essa sensação antecede o tropeço e a saudade é o tropeço, uma doença. É a nossa queda justo quando estamos começando a alçar voo outra vez. É como uma fisgada que nunca sabemos prever. Uma dor que não sabemos remediar. A recordação nos assalta na rua, no sol, no meio de uma conversa com alguém, em qualquer lugar... e arranca com brutalidade as barreiras que construímos para impedir a nós mesmos de olhar pra trás. 
Com o tempo a saudade seca cada gota de todo nosso esforço, nos revira de dentro pra fora, nos faz regressar repetidamente todos os passos dificultosos que conseguimos dar. É como um jogo de tabuleiro que, vez por outra, nos manda de volta ao inicio. 
A qualquer hora do dia, onde quer que eu esteja, eu me lembro de nós dois, meu corpo fica atento com o fantasma da lembrança sua fazendo tudo de novo em mim, aquele arrepio percorre cada parte minha como se fosse real. Mas é cruel! Gostaria de estar sozinha, mas infelizmente não estou. Estou constantemente acompanhada de uma presença sua que não existe mais.
Não sei mais nada da sua vida de propósito, escondi nossos retratos pra tentar esquecer do seu rosto, me afastei por completo, fiz novos planos, cortei os cabelos, perdi peso. Tentei ser outra pessoa pra fingir que nunca aconteceu nada entre nós. Que nunca nos olhamos nos olhos com intensidade, que você nunca me embrulhou dentro dos braços. Que a manhã nunca nos surpreendeu depois do cansaço, quando o sono começava a chegar no meio da nossa conversa. Fiz de tudo pra não fraquejar e me agarrar as certezas que tinha, mas a saudade só me deixou duvidas e suposições que nunca serei capaz de tirar.
Mas o que pude fazer eu fiz, o que pude trocar de lugar, esconder, eu escondi! E mesmo assim, nunca se sabe o que vai nos remeter a um momento qualquer do passado. Pode ser outra pessoa que eu veja, mas vejo você. Pode ser outra pessoa falando, mas a voz que eu ouço é a sua! Saudade é isso, é nunca saber o sintoma, nunca saber o que causa a lembrança e apenas aguardar a dor. É estar sozinho numa história que era de duas pessoas. Tento descobrir como esconder de mim o que esta dentro, e nem sei se tem como... fingir pra mim mesma que meu coração nunca quis que você ficasse e que a saudade é uma teimosia boba. Pra conseguir ser sozinha de novo. Sentir como se não faltasse nada, como antes de você surgir. Porque agora falta e a sua falta é a pior das companhias.


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