domingo, 30 de dezembro de 2018

Na lembrança da minha saudade

Não serei hipócrita, nunca fui. Nem incoerente comigo mesma dizendo que não sinto nada. Que no dia que assisti aquele filme que íamos ver juntos, aquele que te obriguei a assistir o trailer, vigiando a cada segundo se você  não estava dormindo, que o meu choro foi apenas por causa dele. Eu chorei nas cenas que assisti com você, chorei porque você não estava ali comigo e eu queria tanto que estivesse, eu chorei o filme todo lembrando da gente aquele dia. Eu ainda sinto muito, quando lembro de você me dizendo que leu o texto que eu escrevi sobre a minha mãe, me oferecendo seu ouvido, caso eu quisesse  conversar  a respeito, apesar do momento que  estávamos... Eu sinto saudade. Saudade do seu cheiro. Não só do seu perfume, mas do seu cheiro, que é uma mistura do seu perfume, com cigarro e "halls". O cheiro que o seu casaco tinha. Sinto saudade do cheiro de shampoo do seu cabelo. Saudade de você beijando meus olhos, um por um. Da sua mania de bagunçar minhas sobrancelhas, de segurar meu cabelo e dobrar as pontas enquanto a gente conversava. Sinto saudade de te olhar nos olhos enquanto você punha meu rosto no colo das suas mãos e beijava minha testa. Lembro de você contando o tempo que  faltava pra eu fazer 30 anos e quanto tempo faltava pro meu aniversário, quando a gente tava conversando sobre casamento e datas, porque era dia 26. E das vezes que você ficou medindo meu olho falando que ia fazer uma tatuagem dele. Sinto saudade do jeito que você dormia abraçado em mim a noite inteira, e até dos seus espasmos que as vezes me acordava. Lembro da expressão que mais gosto do seu rosto, quando você sorria de boca fechada, com uma cara de menino enquanto tentava me entender, sempre com suas perguntas, seus "por quês" infinitos. Saudade do jeito que você sorria balançando a cabeça das bobagens que eu dizia. E de quando você me explicou que as vezes eu te olhava com um olhar de quem ta querendo intimidar e que achava que isso podia fazer outros homens terem medo de se aproximar de mim, mas que você não tinha medo, apesar de eu não fazer ideia de que estava te olhando daquele jeito. E me lembro da última quarta feira que você me deixou em frente ao meu prédio, a última vez que você me esperou fechar o portão, pra me jogar um beijo, como sempre. Naquele mesmo dia 26, que você estava com a garganta ruim achando que estava com febre e eu saí de casa correndo, carregando termômetro e os remédios que havia comprado pra você, mas acabamos no bar em frente a sua casa tomando cerveja, pra depois comer o hambúrguer de sempre que você dizia não gostar. Sinto saudade de estar dentro da sua vida, da sua casa, do seu abraço. Saudade de te ver se arrumando, de quando te ajudei a escolher que blazer usar e a procurar um cinto no seu armário que combinasse com a sua  roupa... De vestir suas camisas... Saudade do seu sotaque e de implicar com você por causa dele, de ouvir suas histórias, da sua mania de falar as coisas no diminutivo que as vezes me irritava. Saudade de te ver dormir, de embaralhar as nossas coxas, de te ver suado com o cabelo molhado depois do amor que a gente fez. Saudade das quartas feiras de jogo do Flamengo e chope e de dançar com você. Do jeito que você me tinha, das suas mãos sem pudor. Saudades do seu colo. De te ver me esperando em frente ao meu prédio com a roupa do trabalho pra gente almoçar. Sinto saudade da sua preocupação quando eu estava doente... Sinto a falta dela agora que a febre parece se aproximar de mim e você não está aqui, diferente de quando tudo começou. Sinto saudade de tanta coisa desse nosso pouco tempo, saudade até do que imaginei que aconteceria. E é tanto que confesso que as vezes queria apenas arranjar um jeito de voltar no tempo pra nossa ultima noite de sono, mais precisamente, pra dentro do seu abraço, de estar perfeitamente encaixada dentro dos seus braços e das suas mãos e nunca sair. Como explicar as coisas que queríamos que tivesse acontecido mas que não aconteceram porque não houve tempo, ou a oportunidade? Talvez, nós dois, não era pra ser mesmo pra sempre. Era pra ser isso, passageiro, por algum motivo que eu desconheço e não me conforta. Muito pelo contrário! Mas talvez seja. É que tem dias que a sua falta grita tão alto que eu até acredito ser possível que você sinta daí. Mas, como explicar pro coração que não?
De qualquer forma, apesar de todos os pesares, eu ainda lembro.

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