segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Miragem de agosto

A vida é isso, uma surpresa. Nós nos limitamos e nos agarramos aos nossos traumas e achamos que acabou, que não tem como mudar. Que a vida é curta pra encontrar o que procuramos, nos antecipamos ao tempo e esquecemos que não sabemos de nada. Eu achava que não tinha mais jeito, que não encontraria alguém. Não sei ainda se encontrei, mas não conseguia pensar em ninguém que pudesse me abrir de novo. Em tantos rostos conhecidos não via ninguém cujas feições demonstrassem que poderia me fazer mudar de ideia. Ninguém que me interessasse conversar, achava que ninguém quisesse se aprofundar em mim, em saber quem eu sou, que quisesse atravessar a proteção que criei, insistir... Não imaginava mais ser possível deixar alguém entrar na minha loucura, explicar meus caminhos, meus tombos, minha vida capenga... Eis que Ele aparece, do nada, quatro anos depois pra mudar tudo isso dentro de mim.
E nem foram suas feições que eu já conhecia que me cativaram de início. Ele veio embrulhado num jeito doce e cuidadoso que nunca foi capaz de me mostrar antes. Me apresentou primeiro seu lado de dentro pra que, depois, eu pudesse enxergar o lado de fora e ir mais fundo. Foi abraçando o meu jeito, me desarmando, de pergunta em pergunta me folheando, me conhecendo... Com sua atenção e carinho, foi me ganhando, me encontrando por outros caminhos. Quando me dei conta, lá estava eu às 5h da manhã, toda interessada em entender aquele alguém que eu achava que conhecia, me dando uma chance outra vez, aprendendo tudo de novo. Fui me permitindo conhecer aqueles outros olhos, outra pele, sentindo meu coração sorrir outra vez.
Da última vez que me quebrei achei que nunca mais juntaria meus pedaços de novo. Depois de caminhar com cuidado o caminho da intimidade, me doar, de me encaixar em alguém, tive que me acostumar a não ter mais aquilo, tive que fingir não ter acontecido nada e tive a certeza de que nunca mais encontraria alguém que me aninhasse tão bem. E a vida riu de mim. 
No primeiro dia que ficamos juntos já percebi que havia me enganado redondamente esse tempo todo. O primeiro contato foi aquela falta de jeito, ele chegando perto de mim sorrindo, vindo me segurar falando que não acreditava que tava acontecendo aquilo, depois de tanto tempo de conversa sem poder nos vermos pessoalmente. Eu, indo pra um beijo no rosto. Não sabíamos se nos abraçávamos, ficamos no meio, desencontrados. E aí nos encaixamos, fomos caminhando do meu prédio pro dele abraçados: eu nele e ele em mim. Assim. No nosso primeiro contato cara a cara depois de anos. No elevador nos beijamos.
Foi um atropelo e eu me assustei com a rapidez, me assustei com tudo de novo que conheci de uma vez, tive medo de ter estragado algo que estava indo tão bem... Tentei dar um passo atrás, porque não sabia ainda o que sentia e o pedi calma. Mas percebi que era uma tolice deixar o medo decidir nosso desfecho, não dar a chance da vida nos apresentar de novo. E então, quando nos encontramos a segunda vez, naquela quarta-feira pra assistir o jogo do nosso time juntos no bar, perdendo as contas de quantos 'chopps' tomamos em meio a nossa conversa leve, aos beijos na testa e risadas, perdendo a hora... tudo mudou dentro de mim, tudo fez sentido! Os olhos dele mudaram, o beijo mudou... porque naquele dia meu coração o enxergou também. Não conseguia acreditar que tinha encontrado tudo que eu procurava em uma pessoa que eu já conhecia. E eu, que havia pedido a ele calma, de repente me vi abraçando todos aqueles planos precoces que ele fez pra gente.  
Senti meu coração sorrir quando o vi me esperando em frente ao meu prédio pra me levar pra almoçar, lindo... Redescobri como é a vida e todas as suas cores quando o coração está feliz. Como é ser recebida com um 'sou muito sortudo' sussurrado no ouvido, depois do beijo. Como é receber um carinho, um olhar atento, aquele olhar de quem está mergulhado dentro da gente, de beijar como adolescentes na calçada sem se importar com os olhos dos outros, de saber que se tem o tamanho perfeito do abraço, encontrar um ninho. Encontrar alguém que faz a nossa esperança florir, e nos mostra que reciprocidade existe. A vida não é pequena pros nossos sonhos, a vida é grande. A vida é uma surpresa boa.

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